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Santiago Calatrava se destaca com obras monumentais que desafiam a física

O nome de Santiago Calatrava ficou mais popular aqui no Brasil depois que o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, foi inaugurado no finalzinho de 2015. Seu desenho singular, os grandes balanços e o movimento contínuo das aletas em sua cobertura despertaram no grande público a curiosidade por trás do criador daquela arquitetura monumental: um fenômeno que acontece por onde ele passa, às vezes acompanhado de polêmica. A última foi a recém-inaugurada estação de trens no World Trade Center, em Nova York, no último mês de março. Se, por um lado, o design que lembra o voo de um pássaro arrebata corações, por outro, o gasto de US$ 4 bilhões – exatamente o dobro do orçamento inicial – causa discussão.

 

Santiago Calatrava tem 64 anos e nasceu em Valência, na Espanha. Desde muito novo gostava de desenhar e aos 18 anos matriculou-se em um curso de arte. Durante visita em uma papelaria, avistou um livro sobre Le Corbusier que mudou o rumo de sua história. Apaixonado, transferiu seus estudos para a Escuela Técnica Superior de Arquitectura, em sua cidade, onde se formou. Anos depois, concluiu o curso de engenharia civil em Zurique, na Suíça. Não há dúvidas de que essa combinação de conhecimentos possibilitou que criasse obras que desafiam os limites da física e derrubam queixos mundo afora. “Ele é arquiteto e engenheiro estrutural. A junção entre técnica e estética é um dos atrativos de seu trabalho”, afirma o Prof. Dr. em arquitetura Carlos Alberto Ferreira Martins, diretor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP de São Carlos (SP).

 

Eunice Helena Sguizzardi Abascal, professora doutora de arquitetura do Mackenzie, em São Paulo, define a arquitetura de Calatrava como “uma obra monumental, que visa a construção de edifícios emblemáticos, com alta tecnologia e imagem de contemporaneidade e arrojo, a partir da materialidade”. Para ela, os projetos do arquiteto espanhol apresentam um desenho singular, cuja linguagem é instrumentalizada em edifícios e requalificações urbanas para significar vanguarda, futuro. Em seu portfólio é comum observar estruturas que lembram esqueletos e linhas que surgiram de imagens da flora e da fauna. “Ele busca inspiração nas estruturas disponíveis no mundo natural, em formas de animais, vegetais e estruturas que distribuem forças no meio ambiente, como árvores, usando a analogia como princípio do desenho”, afirma a professora.

 

“Eu diria que a sua arquitetura se insere em uma tradição que chamo de expressionismo estrutural. Tem antecedentes ilustres no início do século XX, especialmente na Alemanha. De certa forma, a arquitetura de Antoni Gaudí também integra essa tradição”, afirma Carlos. Para ele, as inspirações de Calatrava também vêm de seu conhecimento de estrutura metálica e do repertório da história da arquitetura. Como grandes esculturas, as criações do espanhol costumam ser erguidas por estruturas de aço e preenchidas com panos de vidro. Tudo sempre muito branco, conferindo-lhe aspecto que remete à tecnologia e ao futuro.

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Devido ao alto custo que uma construção dessas gera, a maior parte de suas obras é pública. Centros esportivos, artísticos, universidades, aeroportos, torres e muitas, muitas pontes. Pela complexidade dessa arquitetura, por vezes algo não dá muito certo e as críticas vem sem piedade. É que quando a estética é ultravalorizada, a funcionalidade pode ser prejudicada. No histórico de problemas estão contabilizados um aeroporto sem saguão na área de desembarque, uma ponte escorregadia com piso de vidro que gerou inúmeros processos depois que transeuntes quebraram os quadris por causa das quedas frequentes, além de atrasos, orçamentos estourados, brigas judiciais, entre outros. “Nos últimos anos, suas obras têm provocado polêmica, tanto por orçamentos superestourados, como por deficiências construtivas. Em função de alguns desses problemas, ele está respondendo a vários processos por perdas e danos e teve que mudar seu domicilio fiscal para a Suíça”, afirma o professor Carlos.

 

Para Eunice, seu principal ponto fraco são os espaços internos, “que valorizam a monumentalidade, mas que apequenam o usuário, gerando com isso o engrandecimento da obra em detrimento da valorização da escala humana”. A professora cita como exemplo o próprio Museu do Amanhã. “Há grande diferença entre a percepção do exterior e dos espaços internos, que são grandiosos e muitas vezes de difícil legibilidade ao usuário, que o percebe como algo que o afasta”, assinala. Carlos também não aprecia esse projeto. “Não gosto particularmente porque ele parece exacerbar a dimensão expressionista”, assinala.

 

Os pontos fortes seriam o desenvolvimento da materialidade da arquitetura, da estrutura e da aplicação de tecnologias à construção e ao processo de projeto. “Outro destaque é a sua aplicação ao desenho de analogia a formas da natureza”, afirma Eunice. Para Carlos, a junção entre técnica e estética é um dos grandes atrativos de seu trabalho. Indiscutivelmente, a genialidade com que Santiago Calatrava combina técnica a desenhos únicos e esculturais faz dele uma das maiores referências da arquitetura dos dias atuais.

 

Imagens: Nelson Kon, Tiago de Oliveira Andrade e divulgação

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