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Ramos de Azevedo, o arquiteto responsável pela modernização de São Paulo

Seu nome está por trás de alguns dos principais cartões-postais da capital paulista: Teatro Municipal, Pinacoteca e Mercado Municipal. Esses edifícios são de um tempo no qual a cidade tentava se desenvolver e que, hoje, se apresentam como patrimônio histórico. Este é o legado de Francisco de Paula Ramos de Azevedo, nascido em 1851, justamente na terra da garoa. Durante toda sua infância e adolescência, porém, ele viveu em Campinas (interior de SP), onde morava sua família. Somente quando adulto se mudou, para cursar a Escola Militar no Rio de Janeiro. “Sua formação universitária, que ocorreu de 1874 a 1878, foi rica e intensa. Formou-se com grande distinção como engenheiro-arquiteto na Universidade de Gante [Bélgica], além de cursar a Academia Real de Belas Artes de Gante”, afirma a Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Wolff de Carvalho , autora da biografia “Ramos de Azevedo”, publicada pela EDUSP.

 

Na universidade ele conheceu Adolphe Pauli,  professor que o influenciou e incentivou a seguir a carreira de arquiteto. Em 1879, ao retornar ao Brasil, instalou escritório em Campinas – centro de suas atividades até 1886. Naquela época, São Paulo começava a se renovar devido ao dinheiro das plantações de café. É nesse ambiente que Ramos de Azevedo consegue destaque, assinando as principais obras públicas da capital paulista, que se reescrevia e modernizava.

 

“Antes, a cidade possuía todas as características de uma vila do Brasil colonial: se reduzia ao hoje chamado ‘centro velho’, deixando os fundos dos vales livres, onde corriam os rios Anhangabaú, Tamanduateí, Pacaembu, Ipiranga. O casario baixo era predominantemente construído em taipa de pilão”, explica Maria Cristina, que define o estilo de Ramos de Azevedo como “beaux-artiano”, ou seja, conforme os modelos da Escola de Belas Artes de Paris.

 

Para Beatriz Bueno, Prof.ª Dr.ª do departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP), Azevedo apresentava trabalhos cada vez mais monumentais. “Eram obras interligadas, que promoviam outras e funcionavam como âncoras para a transformação de certas regiões da cidade”. Beatriz acredita que a mais emblemática é o Teatro Municipal. “Quando foi construído, a cidade era um verdadeiro canteiro de obras, e o Teatro aparecia como um exemplo de tudo aquilo que se desejava em termos de modernidade e cosmopolitismo. Ali, o escritório imprimiu uma marca importante para a capital, com novos padrões culturais”, ressalta.

 

Esses primeiros edifícios públicos marcaram o início do monopólio quase absoluto de Ramos de Azevedo. Não é à toa que seu escritório chegou a ter 500 colaboradores logo nos primeiros anos de existência. Nomes como Maximilian Hehl,  Domiziano Rossi, Ricardo Severo, Victor Dubugras , George Krug, Carlos Gomes de Souza Shalders  tiveram papéis decisivos nos projetos e no acompanhamento de obras do escritório, que durou mais de 100 anos. Entre 1907 e 1911 Ramos de Azevedo associou-se a Ricardo Severo.  De 1911 a 1928, passou a ter como sócios Arnaldo Dumont Villares e Domiziano Rossi . Após sua morte, em 1928, passou a se chamar Escritório Técnico F. P. Ramos de Azevedo, Severo e Villares e Cia. Ltda, funcionando até 1965.

 

Ramos de Azevedo foi, também, um professor apaixonado. “Era tido como extremamente disciplinado, metódico, exigente e, ao mesmo tempo, compreensivo, humano e bem-humorado”, observa sua biógrafa, Maria Cristina Wolff. Cofundador da Escola Politécnica, tornou-se seu segundo diretor e lá ministrou aulas até o final de sua vida.

Aline Regino , professora de arquitetura e urbanismo no Centro Universitário Belas Artes, é categórica ao dizer que ele foi o arquiteto mais representativo ao longo da 1ª República. “A sua obra expressa uma grande ruptura com o passado. Seus projetos propagavam os princípios e ideais da tradição europeia daquele momento, traduzidos pelo ecletismo e a tradição clássica”, diz. Em concordância, Beatriz Bueno acrescenta: “é impossível pensar em São Paulo sem suas obras. Atualmente, Oscar Niemeyer é o nome que desponta ao pensarmos em um arquiteto do país. Se nos voltarmos somente para São Paulo, quem vem à mente é Ramos de Azevedo”.

 

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Imagens: Acervo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, Arquivo Publico do Estado de São Paulo, Débora Nazari  e Jose Cordeiro/SPTuris

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