O legado de Jorge Zalszupin
artista | Jorge Zalszupin | por Attos Henrique
O arquiteto, grande representante do design modernista brasileiro, nos deixa aos seus 98 anos.
Jorge Zalszupin, nasceu em 1922 na cidade de Varsóvia na Polônia. Aos quinze anos, se deparou com um livro que tinha em sua capa as pequenas letras “LC” impressas em dourado, tratava-se de um livro do arquiteto francês Le Corbusier, que deixou o jovem encantado pela arquitetura. Para fugir do holocausto polonês, exilou-se junto de sua família na Romênia, onde se formou em arquitetura pela Universidade de Bucareste.
No fim da segunda guerra, Zalszupin desiludido com a destruição vista em sua cidade, seguiu para Paris, onde trabalhou por alguns anos. Inspirado pela arquitetura do pós-guerra no Brasil, que havia sido consolidada após o célebre Pavilhão Brasileiro, criado pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, para a Feira Internacional de Nova York em 1939, desembarcou no Brasil em 1949, onde encontrou condições para desenvolver sua arquitetura poética, sensual e moderna.
No Rio de Janeiro, Jorge recebeu a proposta de trabalhar em São Paulo, no escritório do arquiteto, e também polonês, Luciano Korngold, famoso por seus projetos de edifícios residenciais no bairro de Higienópolis. Após alguns anos trabalhando com Korngold, Jorge abriu seu próprio escritório logo depois de se naturalizar brasileiro e conseguir reconhecer seu diploma de arquitetura no país. Para que seus clientes aceitassem suas ideias arrojadas, criou sua casa, onde adequou o mobiliário à arquitetura, que surgiu como uma consequência natural do projeto.
Os materiais disponíveis, principalmente as madeiras, a industrialização e modernização no Brasil, intensificadas a partir da década de 1950, foram condições ideais para que suas criações fossem bem aceitas pelas cabeças mais abertas. O arquiteto admirava a proposta da Bauhaus, mas admitia ter problemas com a arquitetura racionalista. Preferia criar formas e espaços com sensualidade e aconchego, buscando inspiração nas curvas, assim como Niemeyer. A cada casa erguida, assumia a tarefa de criar também o mobiliário, o que levou a criação de sua marca L’Atelier, empresa que se espalhou por quase todo o Brasil e criou referência de modernidade a partir de seus showrooms.
Sua primeira poltrona denominada “Dinamarquesa” marcou sua trajetória no design. Os edifícios públicos de Brasília nas décadas de 1960 e 1970, contavam todos com suas criações. Zalszupin liderou uma equipe de designers que trabalhavam para quatro fábricas diferentes do Grupo Forsa, que foi vendido em 1970 junto da L’Atelier. Após isso, dedicou-se a pesquisa e desenvolvimento de produtos para todas as empresas do grupo, e continuou se dedicando a arquitetura, atividade a qual nunca abandonou. Jorge Zalszupin conseguiu durante sua trajetória o equilíbrio entre criar e vender. Se consolidou como um dos grandes contribuintes para o modernismo brasileiro, e deixou seu legado para o design, que será sempre inquestionável e relevante.
Localizado na avenida Paulista, o Edifício Sumitomo é uma das obras assinadas por Jorge Zalzuspin na década de 1970 (Foto: Renan Varizo)
Um clássico vintage, a poltrona Dinamarquesa foi uma das icônicas criações de Zalzuspin (Foto: Fernando Laszlo)
Desenhada no fim da década de 1970, a linha Cubo é diferente das criações do designer, as três peças parecem ter sido esculpidas a partir do desenho de um cubo sólido. A ETEL, marca responsável por reeditar as peças de Jorge, relançou a coleção composta por um sofá, poltrona e mesa lateral (Foto: Gui Gomes)
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