As fascinantes obras de Adriana Varejão
artista | Adriana Varejão | por Attos Henrique
Com mais de trinta anos de carreira, uma das mais célebres artistas da contemporaneidade encanta com suas pinturas inspiradas na azulejaria portuguesa, no barroco, na colonização do Brasil e na diversidade do nosso país
Carioca de nascença, Adriana Varejão cresceu bem longe do mundo das artes. Sua única relação com esse universo aconteceu durante sua infância, graças aos livros Gênios da Pintura, que sua mãe colecionava. Na década de 80, se matriculou no curso de engenharia e, em meio a sua vida acadêmica, acabou sendo atraída pela pintura ao ingressar no Parque Laje, onde fez vários cursos de pintura com John Nicholson, Luiz Áquila, e Charles Watson.
Na Escola de Artes do Parque Laje, Varejão teve a liberdade de transmitir seus sentimentos e suas inspirações na pintura. A transformação radical em sua vida pela arte fez com que dedicasse seu tempo para sua produção artística, motivo que levou a artista a abandonar a graduação em engenharia. Em suas obras, Adriana cria uma narrativa que instiga o espectador, o que pode causar diversas reações devido ao trabalho visceral presente em algumas séries, como em “Ruínas de Charque”, composta por pinturas que representam azulejos que fazem alusão a carne destruída por dentro, o que cria seu aspecto escultórico fascinante.
O mais interessante deste trabalho é a técnica utilizada: são misturas de tintas a óleo que formam uma pele após secarem superficialmente. Por dentro, o material permanece úmido por décadas, o que permite a criação dos rasgos. No Instituto Inhotim, o maior museu a céu aberto do mundo, localizado em Minas Gerais, Adriana ganhou um pavilhão em que a arquitetura e suas obras criam um diálogo harmonioso. Uma tela que representa uma sauna, inspirada nas salas de banho de Budapeste, cria a sensação de continuidade em uma das paredes do espaço, devido a exploração da tridimensionalidade.
Na mesma galeria, a obra “Celacanto Provoca Maremoto” estampa as paredes do segundo pavimento, onde telas inspiradas nos azulejos barrocos foram distribuídas aleatoriamente para representar uma convulsão marítima, que encanta todos os visitantes. Ao descobrir sua obra, é inegável o talento de Adriana Varejão, que explora a história da arte e da cultura brasileira e cria releituras a partir da arte contemporânea, fato que reflete no sucesso da artista, que já participou de diversas exposições nacionais e internacionais, e que atualmente desfruta de seu reconhecimento mundial.
Azulejaria Branca em Carne Viva, obra do ano de 2002. (Foto: Vicente de Mello)
Uma das obras da série “Ruínas de Charque”, que apresenta seu aspecto escultórico criado com tintas a óleo. (Foto: Jaime Acioli)
A série “Polvo” consiste no estudo de tons de pele encontrados no Brasil, de acordo com uma pesquisa do IBGE. (Foto: Fortes D’Aloia e Gabriel)
Obra da série “Saunas”, inspiradas nas viagens da artista por salas de banho na Europa. (Foto: Vicente de Mello)
Tela da instalação “Celacanto provoca maremoto” localizada em uma galeria dedicada a artista no Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais. (Foto: Eduardo Eckenfels)
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