Decorar360

Posted on

A importância da contribuição de Lina para o Brasil

artista | Lina Bo Bardi | por Attos Henrique

 

Lina Bo Bardi, uma mulher à frente de seu tempo, soma reconhecimento e orgulho aos brasileiros pelas suas obras que valorizam cada detalhe da nossa cultura e visam a integração social.

 

Lina Bo Bardi, fotografada pelo seu marido, Pietro Maria Bardi, em 1947 | Foto: Instituto Bardi

 

Há alguns meses, banners pela cidade de São Paulo traziam curiosidades em torno de mulheres que fizeram história em nosso país, em um destes uma frase estava fixada: “O arquiteto que projetou o MASP foi uma mulher imigrante”. A pessoa citada era Lina Bo Bardi. Nome pouco conhecido para os leigos no mundo das artes, a arquiteta deixou seu legado para o Brasil e para a arquitetura mundial, com suas criações mais que notáveis nos âmbitos artístico e social e em seu papel como mulher e cidadã brasileira. 

 

Formada em Arquitetura pela Universidade de Roma, Lina se mudou para Milão, onde fundou seu escritório que veio a ser bombardeado durante a Segunda Guerra Mundial. Traumatizada pela situação em que se encontrava a Europa, viu no Brasil um lugar seguro e promissor para seguir com sua carreira. A escolha da arquiteta foi mais do que certa.  Em terras tupiniquins, sentiu-se livre para arriscar o seu talento, tão livre que se naturalizou brasileira em 1951, cinco anos depois de ter chegado ao país. Em registros, Lina enfatiza: “Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi esse lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, é minha ‘Pátria de Escolha’, e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri, ao Triângulo Mineiro, às cidades do Interior e as da Fronteira”.

 

Integrante do modernismo, ela valorizou as coisas mais simples da nossa cultura e incorporou muitas de nossas tradições em seu trabalho como arquiteta e designer. Uma de suas primeiras obras no Brasil foi projetada em 1951, a Casa de Vidro, que faz referência aos cinco pontos da nova arquitetura estabelecidos por Le Corbusier, criador da arquitetura moderna. A casa foi a primeira residência no bairro do Morumbi, implantada de modo a manter a inclinação natural do terreno, em meio a Mata Atlântica. Foi residência da arquiteta e de seu marido, Pietro Maria Bardi e, atualmente, abriga um instituto dedicado ao trabalho e ao acervo de arte que o casal reuniu durante suas vidas. 

 

Em suas visitas à Bahia, Lina criou um forte laço com a cultura do estado, onde contribuiu com projetos para o Museu de Arte Moderna e o Solar do Unhão. Posteriormente, a arquiteta realizou os grandes marcos de sua carreira: o Museu de Arte de São Paulo e o SESC Pompeia. O MASP, projetado em 1957, foi solicitado por Assis Chateaubriand, fundador do museu junto de Pietro Bardi. Dez anos depois do projeto, o edifício monumental que tem um dos vãos mais admiráveis da construção civil, foi inaugurado na Avenida Paulista e, atualmente, é um dos principais cartões postais da cidade. Outra aclamada obra da arquiteta é o SESC Pompeia, local que ocupa uma antiga fábrica de tambores, revitalizada para oferecer interação e atividades para a sociedade, em funcionamento desde sua inauguração, na década de 80. O projeto de forte apelo estético aos materiais, como o concreto armado, é destaque nos exemplares da arquitetura brutalista. Além disso, Lina contribuiu muito para a disseminação da arte no país. Junto de seu marido, realizou exposições, editou revistas, como a Habitat e criou mobiliários, dentre eles, poltronas, cadeiras e o icônico cavalete de cristal, que são inspirações para muitos designers atualmente.

 

Após sua morte em 1992, a arquiteta tornou-se uma das maiores referências profissionais de sua área. Sua trajetória com a arte, cultura, arquitetura e patrimônio histórico é exemplo a ser passado a todos. Recentemente, Lina Bo Bardi foi consagrada com o Leão de Ouro Especial pela sua trajetória e obra construída na 17ª Mostra Internacional de Arquitetura de La Biennale di Venezia. Hashim Sarkis, curador da Biennale di Architettura 2021, disse que a arquiteta é o que melhor representa o tema do evento deste ano “Como viveremos juntos?”, e destaca: “Sua carreira como designer, editora, curadora, e ativista nos lembra o papel do arquiteto como construtor de visões coletivas. Ele também exemplifica a perseverança da arquiteta em tempos difíceis, sejam guerras, conflitos políticos ou imigração, e sua capacidade de permanecer criativa, generosa e otimista o tempo todo”.

 

Interior da Casa de Vidro, com mobiliário assinado por Lina Bo Bardi. A residência foi morada do casal Bardi e, hoje, funciona como Instituto Bardi | Foto: Leonardo Finotti

 

O edifício que abriga o Museu de Arte de São Paulo na Avenida Paulista é um dos mais importantes museus da América Latina. Seu vão livre funciona como palco para manifestações políticas, encontros culturais e feiras de antiguidades | Foto: Leonardo Finotti

 

O SESC Pompeia era uma antiga fábrica de tambores. As torres criadas por Lina são anexos que completam o plano de necessidades do local e ganham destaque por sua estética brutalista | Foto: Leonardo Finotti

 

fotos | Divulgação

Deixe um comentário

Your email address will not be published.
*
*