O artista de Brasília
artista | Athos Bulcão | por Attos Henrique
Athos Bulcão representa a modernidade através da integração entre arte e arquitetura. Na nova capital do Brasil, teve a liberdade de se expressar e colorir a cidade com suas inconfundíveis obras.
Quem anda por Brasília nota a presença constante das obras de Athos Bulcão nos diversos edifícios públicos projetados por Oscar Niemeyer. Considerado uma das figuras mais importantes do modernismo brasileiro, Bulcão se encantou pela nova cidade planejada por Lúcio Costa e, até o fim de sua vida, foi lá que escolheu viver. Nascido em 1918, na cidade do Rio de Janeiro, Athos perdeu sua mãe antes mesmo de completar cinco anos, sendo criado pelo pai, Fortunato Bulcão, amigo e sócio de Monteiro Lobato.
Teve contato com as artes ainda na infância, estimulado por suas irmãs mais velhas que o levavam à peças de teatro, sem ao menos imaginar que, em um futuro próximo, realizaria trabalhos de figurinos e cenários para espetáculos. Seu destino nas artes foi composto por uma série de lances do acaso.
Antes de se dedicar às artes, cursou três anos de medicina para agradar seu pai. Durante o curso, Athos gostava bastante das aulas de anatomia, pois tinha a liberdade de desenhar. Decidiu realizar sua vontade e logo após abandonar o curso, mudou-se para a França onde iniciou seus estudos em artes e, também, teve seus primeiros trabalhos como ilustrador. Em retorno ao Brasil, conviveu com a elite cultural do país e em contato com o célebre Cândido Portinari, foi convidado pelo artista para ser seu assistente no mural da igreja de São Francisco de Assis na Pampulha, Belo Horizonte, conhecida como a primeira igreja moderna do mundo, projetada por Niemeyer.
Athos não acreditava em inspiração, mas sim em talento e no trabalho árduo. Foi através de muitos trabalhos que ele definiu o passado e o futuro da azulejaria brasileira. Utilizou-se de processos industriais e semi-industriais para a produção de suas obras, democratizando o uso de azulejos no país. Suas criações foram baseadas em elementos geográficos simples, quando juntos em uma composição e assentados de forma aleatória, criam a famosa estética de Athos Bulcão.
Em 1955, ainda no Rio de Janeiro, Athos começou a trabalhar com Oscar Niemeyer, logo após ter contribuído na Pampulha e ter estudado em Paris. Três anos mais tarde, se muda para Brasília, ainda em construção, onde teve o privilégio de ser pioneiro na então nova cidade. Era apaixonado pelo céu, pelas estrelas e pelo sossego que encontrava lá. A primeira grande obra realizada na parceria Niemeyer + Bulcão foi a Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, seu único painel figurativo, composto por Espíritos Santos e Estrelas da Natividade, inspirados em São João. Contribuiu também em diversos edifícios, como no Palácio do Jaburu, no Supremo Tribunal Federal e no Brasília Palace Hotel. Além das obras em azulejo, são encontrados na cidade painéis em mármore e painéis acústicos em teatros e auditórios assinados por Athos. Ele teve a oportunidade de vestir a arquitetura de Niemeyer. Sua arte foi inserida não apenas em edifícios, mas também nas ruas, se integrando ao cotidiano das pessoas.
Em meados da década de 60, contribuiu como professor na Universidade de Brasília, mas com o regime militar deixou o Brasil para trabalhar junto de Niemeyer em países como Argentina, Itália, França e Índia. Ao retornar, se estabeleceu novamente em Brasília, onde morou até o fim de sua vida.
Athos foi diagnosticado com Mal de Parkinson em 1991 e faleceu aos 90 anos, em julho de 2008, vítima de uma parada cardiorrespiratória. Seu legado é grandioso. Ao todo, existem aproximadamente 260 obras realizadas pelo artista na capital brasileira. A obra pública é tombada pela Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal e todas foram inventariadas pelo IPHAN. Em 1992, nasceu a FUNDATHOS, Fundação Athos Bulcão, para preservar e difundir a obra do artista plástico, além de contribuir para a formação social, produtiva e cognitiva de jovens e adolescentes por meio da arte. A instituição tem vocação para exposição, documentação e preservação do legado de Athos.
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