O trabalho do arquiteto David Bastos mescla simplicidade e sofisticação
Com as bênçãos do Senhor do Bonfim, o trabalho do arquiteto David Bastos atravessou as fronteiras da Bahia e conquistou todo o Brasil. Nascido no Rio de Janeiro, ele foi para Salvador ainda na infância, e basta dizer que a capital baiana definitivamente o conquistou. Lá tem escritório próprio pertinho do mar, no bairro do Comércio, enquanto em São Paulo, uma filial marca presença na Rua da Consolação, a uma quadra da badalada Rua Oscar Freire.
Escolheu a arquitetura pela curiosidade em saber como as pessoas moram; por isso, ainda jovem, já folheava muitas revistas da área. Também acompanhou as reformas de todas as casas onde sua família morou. Mas, no início, não foi fácil convencer o pai, médico neurocirurgião, sobre a sua escolha: para ele, o filho deveria estudar engenharia. Vale notar que em sua família há uma mistura de profissões: sua mãe era economista, mas, depois que vieram os filhos, se dedicou exclusivamente a eles; dos três irmãos, um é neurocirurgião, uma é psiquiatra e outra cursou letras.
Formado pela Universidade Federal da Bahia, seu interesse em descobrir a relação das pessoas com o morar fez com que estagiasse na favela de Alagados, em Salvador. O que mais lhe chamava atenção naquelas casas era a vontade dos moradores de ter um espaço confortável, apesar da renda bastante restrita. Após concluir os estudos, trabalhou dois anos na área de planejamento urbano em um órgão público até decidir abrir o seu próprio escritório, focado em arquitetura e interiores.
Fez projetos para amigos e familiares, conquistou clientela e seu estilo roubou a cena. Foi convidado para participar na Casa Cor Bahia e, depois, na de São Paulo. Hoje, com 40 anos de carreira, assina principalmente residências em São Paulo, Recife, Brasília, Natal, Trancoso, além dos Estados Unidos (Miami), Portugal e Suíça, entre outros.
Um ambiente projetado por ele traz sensação de acolhimento e bem-estar, unindo simplicidade e sofisticação. Mas, qual é o seu segredo? “Apesar de a Bahia ser voltada para o Rococó e o Barroco, eu entendo tudo isso como enfeite. Vejo o que o cliente quer e o que o espaço pede. Posso deixá-lo mais livre ou mais denso, com móveis e obras de arte, mas respeito a proporção – e isso não dá para ensinar, só dá para sentir”, explica.
[metaslider id=5379]David dispõe os móveis como se convidassem as pessoas para relaxar – entre os seus designers favoritos estão Jader Almeida, além dos irmãos Campana, que ele conheceu ainda no início da carreira. Para dar o toque final, entram as obras de arte, que podem ser decorativas ou um investimento. E ele ressalta que adora fotografias! Sobre estas últimas, entre os profissionais que mais gosta estão Rômulo Fialdini e Tuca Reinés (este, amigo desde a época em que David tinha um descolado escritório no Trapiche, antiga região das docas de Salvador). Já a sua cor favorita, que pode ser notada na maioria dos projetos, é o branco.
Admirador de arquitetos que, de acordo com suas palavras, “trabalham muito a forma e o espaço, como se fossem esculturas”, ele destaca o trabalho do japonês Tadao Ando, do espanhol Santiago Calatrava e do português Álvaro Siza. Mas, o que ele traz em sua memória é um encontro inesquecível com brasileiríssimo Oscar Niemeyer, em 1995. “Visitar o seu escritório – que ficava em um prédio projetado pelo próprio mestre no Rio de Janeiro –, foi como conhecer um pedaço da história. Ele me levou até uma janela e falou que, quando Brasília aconteceu, tudo aquilo já existia. Já havia se passado mais de 35 anos, mas ele falava como se fosse ontem”, conta.
David aprecia a obra de Niemeyer e comenta que, mesmo o mestre sendo ateu, projetou a Catedral de Brasília; e, apesar de comunista fervoroso, fez os palácios do Itamaraty e do Alvorada. “Independentemente da forma, a proporção desses espaços é palaciana. Os ambientes até podem ser opressores pelo seu tamanho, mas Niemeyer conseguiu incorporar abertura e fluidez”, destaca.
Pessoa de hábitos simples, como ouvir MPB e jazz, David gosta de sair para jantar e se reunir com amigos – e foi com eles que há poucos anos visitou a Indonésia. Com passagens também pelo Camboja e Vietnã, o arquiteto tinha curiosidade em conhecer a cultura local e pretende um dia voltar. “Só não sei quando, pois não é todo dia que a gente faz uma viagem com 30 horas de voo”, finaliza, rindo.
Imagens: Tuca Reinés
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