Dan Graham cria pavilhão de vidro que questiona definições de espaços externos, internos, públicos e privados.
Foi nos anos de 1960 que Dan Graham começou a trabalhar com arte. Escultura, fotografia, vídeos, instalações e performances fazem parte de sua trajetória. Assim como a arquitetura. Dan produziu pavilhões – via de regra em vidro espelhado – que vagam na tênue linha que distingue arquitetura de escultura. No Brasil, o artista já esteve presente com a obra “Bisected triangle, interior curve”, no Instituto Inhotim, em Minas Gerais.
Sua última criação desse tipo ficou exposta no Marseille Modulor (MAMO). Trata-se de um centro de artes ao ar livre localizado na cobertura de um prédio na cidade de Marselha, no sul da França. Todos os anos um artista diferente faz uma intervenção no alto deste prédio dos anos de 1950, projetado por ninguém menos que Le Corbusier.
Essa história começa em 2010, quando o designer Ito Morabito, profissionalmente conhecido como Ora, percebeu que o ginásio e o solarium do terraço estavam à venda. “Assim como você compra uma peça de arte, também pode comprar arquitetura”, afirma Morabito, que não deixou escapar a oportunidade, dando origem ao MAMO. E, todos os anos, ele convida um talento para fazer uma intervenção no local.
Ali, Graham implantou dois pavilhões funcionais, de estruturas híbridas, parte escultura, parte arquitetura. “Isso só depende do olhar de quem vê”, afirma. Essas criações questionam as definições de espaços internos e externos. Onde começa um e termina o outro? Quem é o observador e quem é observado?
Como já é marca registrada de Graham, o vidro foi adotado para dar vazão a essas provocações. “Usei vidro reflexivo curvo que, de certa forma, espelha a imagem do observador ao mesmo tempo em que exibe a figura do observado. O que é público e o que é privado?”, indaga. De fato, as curvas ajudam a confundir: em uma delas, que tem o desenho parecido com um olho, há um espaço dentro do próprio espaço, assim como a pupila está na íris. Afinal de contas, quem está dentro e quem está fora?
A outra estrutura tem um desenho mais simples: com uma única abertura, uma linha reta se encontra com uma curva, provocando os mesmos questionamentos da anterior. Como o espaço foi projetado por Le Corbusier, pai do modulor, o sistema de proporções baseado na altura de um homem que pautou escalas arquitetônicas para milhares de profissionais, as dimensões das estruturas foram uma das preocupações de Dan. “Meu trabalho foi uma intervenção no espaço. Não poderia ser maior do que ele, do que os elementos arquitetônicos de Le Corbusier. Era preciso ser respeitoso e estar na escala humana padrão para não sufocar, nem inibir os visitantes”, explica.
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Imagens: Divulgação
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