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A dama da arquitetura Zaha Hadid deixou importante legado em mais de 40 anos de carreira

Ousadia era a marca registrada da arquiteta Zaha Hadid, que subitamente nos deixou aos 65 anos de idade. Com projetos de formas inesperadas e dinâmicas, ela roubou a cena em uma profissão ainda dominada pelos homens – como ela sempre lembrava em suas entrevistas –, tornando-se a única mulher a receber o Prêmio Pritzker individualmente (em 2004), sem dividi-lo com outro arquiteto. Pouco antes de sua morte, foi condecorada ainda com o RIBA Gold Medal, o maior prêmio de arquitetura do Reino Unido.

 

“Zaha ganhou relevo a partir do momento em que ganhou o Pritzker. Ao longo dos séculos XX e XXI, outras arquitetas também tiveram trabalhos interessantes, como a americana Denise Scott Brown e a holandesa Caroline Bos, mas percebemos que só recentemente é que começou a ser reconhecido o papel da mulher na arquitetura, o que é uma injustiça”, acredita o professor doutor Wilson Florio, que leciona no curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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Nascida no Iraque, em uma família de alto poder aquisitivo, Zaha trazia uma doce recordação da sua infância: as viagens de férias com os seus pais, conhecendo museus e edifícios de todo o mundo. Com sete anos viu a Mesquita de Córdoba, na Espanha, e ficou impressionada, conforme disse em entrevista ao jornal “El País”, em agosto de 2015. Formou-se em matemática na American University of Beirut, no Líbano, até ingressar no mundo arquitetônico em 1972, na Architectural Association de Londres.

 

Trabalhou no escritório OMA, comandado pelo seu antigo professor, o arquiteto Rem Koolhaas, até partir para a carreira solo, em 1979, também na capital britânica. Segundo o professor Wilson, como naquela época não havia computadores, Zaha elaborava as ideias em uma série de desenhos e pinturas de grandes dimensões, com cerca de 2 x 3 m. “Ela retratava o dinamismo da cidade e um pouco do fluxo urbano ao redor do edifício”, conta.

 

De acordo com o professor, já na década de 1990, com a introdução da computação gráfica no escritório e a entrada de seu sócio Patrik Schumacher, sua arquitetura ganhou formas mais orgânicas, contínuas e fluídas até sua consagração, nos anos 2000. “Ela conseguiu levar a arquitetura a um estado de arte, conciliando-a com os desafios técnicos construtivos, que no início da carreira ela não tinha pleno domínio”, assinala.

 

Seu primeiro trabalho de destaque foi o Vitra Fire Station, a estação de bombeiros da fábrica de móveis na Alemanha (1993). Outro projeto memorável é o Heydar Aliyev Center, em Baku, capital do Azerbaijão (2014). Já no último ano, projetou um museu futurista encravado no topo de uma montanha nos Alpes italianos, o Messner Mountain Museum Corones. O que eles têm em comum? Todos se tornaram referências em seus países. Para deleite dos brasileiros, ela chegou a desenhar um projeto previsto para ser erguido na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro: o residencial Casa Atlântica. Mas é preciso aguardar para vê-lo sair do papel.

 

Para o professor doutor Enio Moro Jr., coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, a obra de Zaha surge como uma direção a ser estudada e vivenciada pelos sentidos. “Ela ousou transmutar formas, superar fórmulas, esgotar as mesmices da arquitetura que tanto nos oprimiu e deixou-nos reféns de mesmices. Observar uma obra dela é saborear um banquete único e inesquecível”, afirma.

 

Segundo ele, um dos seus principais legados é a elevação da qualidade na produção da arquitetura, pois seu processo de criação usa softwares e processos computacionais baseados na parametrização. “Isso possibilita a ousadia de suas obras com o mínimo desperdício de materiais e soluções altamente sustentáveis. Assim, a obra é montada, como um carro ou avião, e não em um processo artesanal, como vemos hoje em grande parte da produção”, explica.

 

Com a carreira mais notável de uma arquiteta até hoje, Zaha Hadid viu seu nome figurar como status de grife em complexos comerciais, hoteleiros e residenciais em vários lugares do mundo, marcando para sempre a paisagem e a história da arquitetura. “Compreender a sua obra não é para principiantes, mas para apaixonados pelo porvir, pelo amanhã, pela superação dos limites, temas que, infelizmente, parecem cada vez mais distantes para muitos arquitetos e urbanistas”, finaliza o professor Enio.

 

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Imagens Christian Richters, Hufton+Crow, Iwan Baan, Luke Hayes e Mary McCartney

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